Foto: Alan Rodrigues | AG. A TARDE
Cidade do Saber. Um lugar que já foi símbolo de oportunidade, cultura e futuro pra mais de 5 mil jovens em Camaçari. Um espaço pra formar artistas, atletas e, principalmente, cidadãos. Mas aí veio a gestão do ex-prefeito Elinaldo (União Brasil) e… puf! O brilho apagou, a música silenciou e o que era projeto virou passado.
Durante os 8 anos de Elinaldo, a Cidade do Saber foi largada no canto, igual parente que só aparece em velório. Professores sumiram, alunos foram embora e o lugar acabou cedido pra UFBA, que também não sabia muito bem o que fazer com aquele elefante cultural estacionado ali.
Agora, com Luiz Caetano (PT) de volta ao comando da Prefeitura, vem a promessa: vai ter reanimação sim, senhora! Mas com calma, porque o estrago foi grande. O plano é retomar os cursos a partir do segundo semestre, conforme a grana aparecer e a equipe for remontada.

Secretária Elci Freitas busca recursos para retomar as atividades da Cidade do Saber | Foto: Alan Rodrigues | AG. A TARDE
A missão de botar ordem no barraco caiu no colo da secretária de Cultura, Elci Freitas. A coitada mal sentou na cadeira e já teve que devolver R$ 2,5 milhões da Lei Paulo Gustavo, simplesmente porque a gestão anterior não teve competência pra usar o dinheiro. Sim, minha filha: perderam verba na base do “não fiz nada e ainda estraguei tudo”.
E como se não bastasse a vergonha, essa devolução pode fechar as portas pra novos projetos. Por isso, Elci correu pra Brasília, bateu na porta da ministra da Cultura, Margareth Menezes (que, aliás, foi a cara da Cidade do Saber no lançamento em 2007), e pediu: “Não cancela a gente, não!”
A situação não seria tão alarmante se a tal reforma de R$ 12 milhões, feita na gestão passada, não tivesse sido só maquiagem barata. Segundo os funcionários que realmente botam a mão na massa, o que foi entregue em 2024 tava pior que briga de família em grupo do WhatsApp. E olha que a bagaceira foi generalizada. Uma auditoria vai ser aberta pra ver pra onde foi parar essa dinheirama toda, porque reforma que não reforma, só pode ser esquema.
O palco do teatro, que se gaba de ser o 2º maior da Bahia, com 568 lugares, tá ali… caindo aos pedaços. Tem infiltração, tem goteira, e quando chove, é show de horrores: o público assiste à peça e toma banho ao mesmo tempo. Uma experiência imersiva, digamos assim. A porta de emergência? Trancada. A secretária Elci Freitas não poupou na língua: “Estão chamando de Boate Kiss 2. Se der uma emergência, é cada um por si”.
Já o placar eletrônico da quadra, que tava lá no edital bonitinho, sumiu. Cadê? Ninguém viu. As instalações elétricas e hidráulicas tão gritando por socorro. O ar-condicionado parece que entrou em greve e o cheiro de mofo compete com qualquer perfume do Paraguai. É tanta gambiarra que até a gambiarra pediu demissão. Elci resumiu bem: “vai ser a reforma da reforma”, e pra isso vai precisar de crédito suplementar da Câmara. Ou seja: além de consertar, ainda vai ter que pedir benção.
E se você acha que acabou, senta porque lá vem história.
Gílson Pinheiro, o gerente de manutenção da Cidade do Saber, é praticamente o “soldado desconhecido” dessa epopeia. O homem participou da construção do complexo, acompanhou a tal reforma e saiu dela quase virando paciente psiquiátrico. Gastou R$ 3.700 em exames, perdeu cabelo, criou um buraco na cabeça e os pés descamaram – o corpo reagiu ao caos da administração passada. E o diagnóstico? Estresse. Se tivesse plano de saúde da Prefeitura, talvez nem passasse por isso, mas né…
E ele lembra com os olhos marejados (e não era da goteira não):
“Eu vi gente deixar a cadeira de rodas com a natação, meninas negras saindo daqui pro Bolshoi… e depois vi tudo se acabar.”
A Cidade do Saber virou um retrato do que acontece quando se mistura descaso, politicagem e maquiagem mal feita: um cenário de promessas, potencial e um rombo que não é só financeiro — é humano.